terça-feira, 19 de agosto de 2008

Sapo Chico



Qualquer dia desses em casa, provavelmente uma terça, que está mais para um dia qualquer do que qualquer outro dia, quando se está em casa pensando em algo para pensar, algo para ocupar uns 15 minutos apenas, talvez 30....enfim, eu já me perdi. Mas num dia desses, olhando para o pequeno mural que tem no meu quarto, onde eu penduro as coisas que preciso lembrar (e que agora esqueço de olhar), passando os olhos rápido, um calendário da faculdade, meus dias de aula, algumas contas, roupas na lavanderia...até que bati os olhos no Sapo Chico. Parado, pendurado, entediado, assim como eu, tentando achar alguma graça de se estar li pendurado no mural pra passar o tempo.

Decidi então mudá-lo de lugar. Uma mudança de ares deve fazer bem a ele. Mas onde? Andei com ele pela casa, o que não me demorou muito, e descobri, perplexo, que assim como eu, Sapo Chico não tem lugar dentro dessas paredes. Não havia quase nenhum lugar onde eu pudesse pendurá-lo, e quando eu achava, ele, como que por teimosia, insistia em cair sempre. Mas era lógico! Sapo Chico não queria mais viver pendurado. Não queria mais viver parado no mesmo lugar, olhando a mesma vista, esperando talvez um vento forte para balançá-lo. Sapo Chico queria encontrar seu próprio vento, queria se balançar sozinho. Queria se jogar do seu pedaço do mural e descobrir, sozinho, se o chão era duro. Não adiantava eu lhe falar, lhe avisar. Dizer que ali, pendurado, ele estaria melhor do que em qualquer outro lugar.

Resolvi levar Sapo Chico comigo, para algum lugar, para qualquer lugar que eu fosse. Deixei ele sair pela porta, comigo. Era o máximo que eu podia fazer. Sapo Chico tem pernas, mas não sabe andar. Só coacha quando lhe apertam. Levei ele comigo até o carro e o deixei ali, no banco. Talvez ele gostasse de tudo, afinal. Ou talvez fosse só um passeio agradável. Tentei pendurá-lo mais uma vez no espelho do carro, e na primeira curva, ele caía. Maria falou que eu não tinha posto direito, que tinha que enrolar e prender a correntinha, então eu deixei ela botar. Ela quebrou uma unha, reclamou, mas conseguiu. Agora Sapo Chico fica pendurado no espelho, no meio do carro, olhando pra tudo lá fora e se balançando nas curvas. Eu olho pra ele. Ás vezes ele me lembra alguém. Outras vezes, me lembra apenas um sapo, que fica lá no meu carro pendurado me esperando pra passear.

Eu gosto de pensar que ele gosta disso tudo.

3 comentários:

Bianca de Queiroz disse...

Tenho vontade de casar com você quando leio seus textos. ^^
Saudades, Ronny.

Kinha disse...

Eu já tive um sapo , que se chamava Roberto, em minha vida. Me acompanhou em todas minhas aventuras automobilísticas (desde o primeiro dia de carteira...)
Até que, assim como o sapo Chico, ele resolveu mudar seu caminho. Fugiu sem deixar rastros... e nem se despediu =(

Aí vai uma foto do sapo Roberto, em seus dias de bicho de pelúcia:

http://www.fotolog.com/dreaming3/8303106
=P

Maria Lopes disse...

Obaaa!! eu ajudei o sapo chico... que feliz. espero que ele nunca se esqueça disso. mesmo em "washiton".
;)